O título deste texto é o nome do evento bienal que acontece na Faculdade de Educação da UFMG. Este ano, estiveram lá reunidos escritores, professores, editores e leitores, nos dias 21 a 23 de novembro.
Na conferência de abertura, Magda Soares inverteu intencionalmente o foco do título do evento, ao falar sobre “o jogo das escolhas”. Ela centralizou sua intervenção nos processos envolvidos nas escolhas, isto é, o que nos faz eleger determinado texto? No caso dos professores, como é possível escolher um texto para o outro? E, como resultado de sua reflexão, aparece um dos fatores levados em consideração nesse jogo: a diversão. O texto deve entreter, seduzir.
Na mesa “Escolhas do vestibular”, o professor Luiz Carlos Junqueira Maciel perguntou, em seu provocador artigo, por que é que determinados autores sempre aparecem nas listas dos indicados ao vestibular e outros, nunca. O professor José Américo de Miranda Barros, que participa da elaboração da prova de Literatura do concurso da UFMG, responde que o valor pesa na balança das escolhas. O cânon não pode deixar de ser lido pelos que pretendem conhecer a Arte. Se isto acontecer, segundo o professor, a obra não deixará de ser clássica; quem perde é o próprio leitor, ao escolher textos de literatura menor. (abrirei um parênteses porque não gosto deste termo. Quando classifica-se um texto como literário, não se pode falar em comparações do tipo: menor ou maior. Feita a classificação, a qualidade é inerente a todos eles. Me lembro da mesa sobre Romance Noir, no Fórum das Letras, em que os escritores disseram que tratam dos mesmos temas recorrentes em outros romances: condição humana, conflito etc. No entanto, este fato passa desapercebido ou, talvez, nem chega a ser averiguado e constatado e, então, o pré-julgamento, por ser o caminho mais fácil, acaba se sedimentando).
As escolhas de editores infanto-juvenis me pareceram ser as mais apaixonadas, as escolhas do coração. Pudera, uma vez que a mesa era composta por Maria Antonieta Cunha, Maria Mazzarelo, Rosa Amanda Strausz (do site Doce de Letra, recém-extinto, muito ativo durante dez anos) e Annete Baldi. Rosa disse que, uma vez, escolheu um livro lindo, uma versão em cordel, com ilustrações de primeiríssima. Colocou o maravilhoso livro no meio de vários outros em cima de uma mesa, para que as crianças dessem suas opiniões. Ao pegarem o tal livro, belíssimo, segundo a editora, todas as crianças diziam a mesma coisa: “Esse é chato.”. E ela, então, perplexa, voltava-se para eles e dizia: “Peraí! Vocês nem leram! Vamos abrir o livro.” Depois de folhear as páginas, observando apenas as ilustrações, os pequenos em coro: “É chato, mesmo!”. Na última tentativa de convencê-los de que o livro era bom, Rosa leu a estória para eles e só neste momento a opinião começou a mudar. Rosa percebeu que havia uma imensa pedra no caminho entre o leitor infanto-juvenil e a obra literária: uma pedrona chamada capa. Rosa percebeu, também, que a linguagem considerada banal pelo adulto, contida em um original de baixa qualidade e até com erros ortográficos, pode fazer um sucesso imenso com o público, pelo fato de falar do cotidiano, de fatos que realmente acontecem em suas vidas, como, por exemplo, o surgimento de uma espinha no rosto. Rosa comentou a dificuldade de se desvincular o livro literário da escola. Não existe mercado independente de Literatura infantil e juvenil, que exista para o prazer destes leitores e não, em função de uma obrigação, a prova de Português e Literatura. Mazza falou dos livros que têm como tema o preconceito racial e citou Antonieta Cunha como importante mediadora do processo de aceitação, nas escolas, dos livros da Mazza. Annete Baldi leu trechos de livros da Projeto em que estão presentes a poesia, a brincadeira, o envolvimento do escritor com o universo infantil, com o folclore e os costumes brasileiros. Antonieta Cunha disse que “a melhor coisa do mundo é... – um gole de água e, chorando, – editar.”. Essa frase foi dita depois de ela ter contado as peripécias de cerca de sete mulheres amadoras envolvidas em uma paixão: a editora Miguilim. Para Antonieta, editar é transformar um papel em uma obra de arte.
Temos diversas opções de escolha na encruzilhada das prateleiras das livrarias e bibliotecas. Contamos com alguns direcionadores: o tio que gosta de ler, os pais, o amigo que é leitor voraz, a FNLIJ, os professores de Literatura... mas se a gente quiser seguir nosso instinto, é só ir até a biblioteca pública, olhar as etiquetas das prateleiras, fazer um empréstimo, aproveitar a leitura e emitir um parecer próprio. Assim, vamos, aos poucos, sabendo quem é nosso autor, nosso texto (conto, poesia, romance...), e nosso ilustrador preferidos. No final, temos tantos desses nomes, que é impossível ler todos. Assim, há que se peneirar! Afinal, a vida é muito breve.
“A arte existe porque a vida não basta”
Fernando Pessoa
Postado por Juliana.
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2 comentários:
Nossa, o evento deve ter sido mt enriquecedor!
Parabéns por estar tão ativamente participando dele!!!!!!!!
Bz!
participando ficou ruim... envolvida!
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