domingo, 24 de agosto de 2008

Redação feita por uma aluna do curso de Letras, da UFPE Universidade
Federal de Pernambuco (Recife), que venceu um concurso interno
promovido pelo professor titular da cadeira de Gramática Portuguesa.

"Era a terceira vez que aquele substantivo e aquele artigo se
encontravam no elevador. Um substantivo masculino, com um aspecto
plural, com alguns anos bem vividos pelas preposições da vida. E o
artigo era bem definido, feminino, singular: era ainda novinha, mas
com um maravilhoso predicado nominal.

Era ingênua, silábica, um pouco átona, até ao contrário dele: um
sujeito oculto, com todos os vícios de linguagem, fanáticos por
leituras e filmes ortográficos. O substantivo gostou dessa situação:
os dois sozinhos, num lugar sem ninguém ver e ouvir. E sem perder essa
oportunidade, começou a se insinuar, a perguntar, a conversar.


O artigo feminino deixou as reticências de lado, e permitiu esse
pequeno índice. De repente, o elevador pára, só com os dois lá dentro:
ótimo, pensou o substantivo, mais um bom motivo para provocar alguns
sinônimos. Pouco tempo depois, já estavam bem entre parênteses, quando
o elevador recomeça a se movimentar: só que em vez de descer, sobe e
pára justamente no andar do substantivo. Ele usou de toda a sua flexão
verbal, e entrou com ela em seu aposto.

Ligou o fonema, e ficaram alguns instantes em silêncio, ouvindo uma
fonética clássica, bem suave e gostosa. Prepararam uma sintaxe dupla
para ele e um hiato com gelo para ela. Ficaram conversando, sentados
num vocativo, quando ele começou outra vez a se insinuar.

Ela foi deixando, ele foi usando seu forte adjunto adverbial, e
rapidamente chegaram a um imperativo, todos os vocábulos diziam que
iriam terminar num transitivo direto.

Começaram a se aproximar, ela tremendo de vocabulário, e ele sentindo
seu ditongo crescente: se abraçaram, numa pontuação tão minúscula, que
nem um período simples passaria entre os dois. Estavam nessa ênclise
quando ela confessou que ainda era vírgula; ele não perdeu o ritmo e
sugeriu uma ou outra soletrada em seu apóstrofo. É claro que ela se
deixou levar por essas palavras, estava totalmente oxítona às vontades
dele, e foram para o comum de dois gêneros.

Ela totalmente voz passiva, ele voz ativa. Entre beijos, carícias,
parônimos e substantivos, ele foi avançando cada vez mais: ficaram uns
minutos nessa próclise, e ele, com todo o seu predicativo do objeto,
ia tomando conta.

Estavam na posição de primeira e segunda pessoa do singular, ela era
um perfeito agente da passiva, ele todo paroxítono, sentindo o pronome
do seu grande travessão forçando aquele hífen ainda singular. Nisso a
porta abriu repentinamente. Era o verbo auxiliar do edifício. Ele
tinha percebido tudo, e entrou dando conjunções e adjetivos nos dois,
que se encolheram gramaticalmente, cheios de preposições, locuções e
exclamativas. Mas ao ver aquele corpo jovem, numa acentuação tônica,
ou melhor, subtônica, o verbo auxiliar diminuiu seus advérbios e
declarou o seu particípio na história.

Os dois se olharam, e viram que isso era melhor do que uma metáfora
por todo o edifício. O verbo auxiliar se entusiasmou e mostrou o seu
adjunto adnominal. Que loucura, minha gente. Aquilo não era nem
comparativo: era um superlativo absoluto. Foi se aproximando dos dois,
com aquela coisa maiúscula, com aquele predicativo do sujeito apontado
para seus objetos. Foi chegando cada vez mais perto, comparando o
ditongo do substantivo ao seu tritongo, propondo claramente uma
mesóclise-a-trois. Só que as condições eram estas: enquanto abusava de
um ditongo nasal, penetraria ao gerúndio do substantivo, e culminaria
com um complemento verbal no artigo feminino.

O substantivo, vendo que poderia se transformar num artigo indefinido
depois dessa, pensando em seu infinitivo, resolveu colocar um ponto
final na história: agarrou o verbo auxiliar pelo seu conectivo,
jogou-o pela janela e voltou ao seu trema, cada vez mais fiel à língua
portuguesa, com o artigo feminino colocado em conjunção coordenativa
conclusiva".

Postado por Patricia

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Anotações sobre a palestra proferida hoje pelo Prof. Gunther Kress, da Faculdade de Cultura e Pedagogia, do Instituto de Educação da Universidade de Londres.
Foto: Flickr

A social semiotic theory of learning: multimodality, provisionality and design

Na interação, o ser humano não apenas emite sinais. Ele produz significados. A comunicação não depende apenas de alguém que fala, mas de alguém que responde, interpreta o que é ouvido e interpreta o mundo à sua volta. Há, na situação de comunicação, uma relação de interdependência. Nesse momento, o professor utilizou a metáfora da sala cirúrgica, em que uma equipe se prepara para realizar um procedimento. Há, entre os membros da equipe, uma conexão. Cada profissional desempenha uma função diferente e específica, no entanto, um depende do outro e interage de acordo com interesses e desejos, para que a cirugia se realize e seja bem sucedida.

O aprendizado é uma situação de comunicação. Os ambientes de aprendizado são complexos. Há diversas formas, condições e ambientes de aprendizagem. O ambiente do site caracteriza-se por um design que pergunta: qual é o seu interesse? O usuário escolhe onde clicar e entrar. E o estilo é a política da escolha, assim como a estética é a política do estilo, isto é, nós escolhemos aquilo que apela ao nosso gosto, à nossa imaginação. A política de avaliação é a ética. Diante disso, cores, layout e imagens são importantes na criação de um ambiente de aprendizagem atrativo e com boas chances de obter êxito em seu propósito de educar. Com a mudança social e semiótica, a imagem, antes – século XX – meramente ilustrativa, desempenha funções diferentes da escrita e ambos, escrita e imagem, possuem significados diferentes. O que é melhor comunicado com palavras e o que é melhor comunicado com imagens são distinguidos na elaboração de uma página da web.

O ambiente de aprendizado é o espaço em que a subjetividade está presente. Cada um constrói seus próprios significados e há emoção e afetividade na interação comunicativa. Portanto, sugere-se que a escola abra a visão limitada ao intelecto e a aspectos cognitivos.
Postado por Juliana.

Letramento digital

Bem, como o vídeo do Colóquio talvez não seja disponibilizado na rede, escrevo minhas impressões sobre a fala da Professora Dra. Carla Coscarelli, do Grupo de Pesquisa A tela e o texto, da Faculdade de Letras da UFMG.
O título da conferência da Prof. Carla foi: Alfabetização e Letramento: a cultura escrita na sala de aula (em tempos digitais).


O homem inventou a tecnologia digital. Ela aparece em um mundo caracterizado por desigualdades econômicas e sociais, em que nem todos possuem um computador em casa. Além disso, nem todas as escolas oferecem as ferramentas necessárias para que as crianças e jovens aprendam a operar os programas existentes.

Alfabetizar e ensinar no século XXI são atividades que precisam receber novo tratamento, para atender ao modo de escrever que as novas tecnologias trazem. Hoje, alfabetizar apenas por meio do lápis e do papel é algo que pode levar a um atraso das gerações de camadas populares em relação às de classe média.

A alfabetização precisa considerar que existe, além do grafite, o mouse, o pincel mágico e o teclado. A caligrafia, agora, envolve fontes, animação e cores. O número de gêneros textuais aumentou, com o surgimento de novos gêneros; cada um, requerendo uma maneira diferente de ser escrito: e-mail, torpedo, chat, MSN. Também os suportes se modificaram e apareceram novas interfaces, como a tela do celular.

A pesquisadora fez um estudo sobre os livros didáticos (LDs), com relação ao que tinham a contribuir para o letramento digital do aluno e do professor. A conclusão foi de que os LDs têm muito pouco a contribuir para esse aspecto.

Diante disso, várias questões foram postas: o que muda nos textos, na produção, na recepção? O ensino deve ser realizado de forma prescritiva ou levando-se em consideração a capacidade de escolha dos alunos? A internet na escola deve negar o acesso a determinados sites ou disponibilizar um acesso livre e irrestrito, como o que os alunos de classe média possuem em casa?

Assim, é importante, nesse momento, uma formação moderna e inclusiva do professor.

Postado por Juliana.

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Letramento e Cultura escrita

Acontece, até amanhã, na Faculdade de Educação - FaE/UFMG -, o Segundo Colóquio Internacional sobre Letramento e Cultura escrita.

As conferências estão sendo gravadas e estarão disponíveis, em breve, no site do Ceale - Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita.

Postado por Juliana.

sábado, 9 de agosto de 2008

Sherazade


Sherazade, para escapar da morte, que vinha pela manhã, após cada noite de prazer que o rei desfrutava com as mulheres do reino, contou histórias a ele. Os contos eram envolventes e criativos, o que aguçava a curiosidade do ouvinte. Sherazade deixava o final de seus contos sempre em suspense. Assim, conseguiu evitar que o rei a sacrificasse, uma vez que ele esperava ansioso pela continuação da narrativa e pela próxima história.

Os contos do livro As mil e uma noites são estruturados como histórias em cadeia, em que cada conto termina com uma deixa que o liga ao seguinte (Wikipedia, 2008).
Assim é a obra Sherazade (2007), do artista Hilal Sami Hilal, nascido em Vitória, cidade onde seus trabalhos foram expostos, no Museu da Vale. Agora, Sherazade está na Galeria Arlinda Corrêa Lima, no Palácio das Artes, como parte da exposição Biblioteca.

Livros cujas páginas desembocam em outro livro, cujas páginas desembocam em outro livro, cujas páginas desembocam em outro... formam uma rede de interligações entre textos, entre informações. A obra lembra intertextualidade. A relação entre o que já foi registrado e o que ainda vai ser escrito.

Toda a cultura, incluindo a produção literária, dialoga com outro texto, relativizando a questão da autoria (Paulino, G.; Walty, I.; Cury, M. Z., 2005). Em Sherazade, a impressão é de que, o que uma pessoa leu, apareceu em outro livro e assim por diante. E a leitura, como a escrita, revelam-se atos coletivos, realizados por meio do repertório individual, formado por memórias, bagagem e trocas.

Referências:
PAULINO, Graça; WALTY, Ivete; CURY, Maria Zilda. Intertextualidades. São Paulo: Formato, 2005.

________. As Mil e uma Noites. Disponível em:
< http://pt.wikipedia.org/wiki/As_Mil_e_uma_Noites#Refer.C3.AAncias>. Acesso em: 09 de agosto de 2008.


Postado por Juliana.



quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Mural

A Débora entrou em contato conosco para realizar uma parceria com o escrita, na Revisão de textos. Apresentamos, aqui, um release de outro trabalho oferecido por ela.

ANÁLISE DOS LIVROS INDICADOS AO VESTIBULAR UFMG

Análise completa (com exercícios de múltipla escolha, discursivos e gabarito) das obras indicadas. Arquivo digital, em formato PDF, totalizando mais de 200 páginas.
Autora: Débora Vieira, formada em Letras pela UFMG; professora da Associação Pré-UFMG e das redes Poliedro e COC.
Valor: 10,00. Envio por e-mail após depósito em conta bancária.
A autora também se disponibiliza a resolver, via e-mail, eventuais dúvidas dos alunos.

domingo, 3 de agosto de 2008

Palavras "démodée"

No dia em que meu avô me perguntou se eu iria para Belo Horizonte de garupa, achei engraçada essa expressão. Demorei alguns segundos para compreender o significado, mas logo “caiu a ficha”, certamente ele estranharia esse meu termo. É interessante notar a transformação do vocabulário de uma língua. Algumas palavras são usadas em determinadas épocas, já outras existem por um longo tempo.
A palavra casquete, originária do francês, parece ter sido empregada na nossa língua, um tempo atrás, para designar boné. Entretanto, se utilizarmos essa palavra numa conversa entre jovens, certamente alguns irão estranhá-la. Da mesma maneira, é engraçado ouvir se vamos encontrar nossos brotos, ou se vamos paquerar. Para quem nasceu na geração do “ficar”, essas antigas expressões nos dão uma idéia de pureza que destoam do vocabulário de nossos dias. Outra palavra que não é tão usual para a geração jovem é o termo “colosso”, que significa algo muito bom, espetacular.
É estranho pensar que daqui a alguns anos, expressões com que estamos habituados serão esquisitas para a futura geração. Frases como “Ele tem a manha” e termos como “falou” (no fim das conversas com o significado de “tchau”), assim como “véio”, usada nas conversas entre adolescentes com o significado de amigo, parece que não terão um tempo de uso muito longo.
Porém, pode ser que minha intuição esteja errada e uma criança chegue perto de mim e fale: Falou vovó! Nesse momento, espero que eu me lembre desse pequeno artigo.

Postado por Patrícia