quinta-feira, 17 de abril de 2008

Aula de Redação

O Lutador

Carlos Drummond de Andrade

Lutar com palavras é a luta mais vã.
Entanto lutamos
mal rompe a manhã.
São muitas, eu pouco.
Algumas, tão fortes
como o javali.
Não me julgo louco.
Se o fosse,
teria poder de encantá-las.
Mas lúcido e frio,
apareço e tento
apanhar algumas
para meu sustento
num dia de vida.
Deixam-se enlaçar,
tontas à carícia
e súbito fogem
e não há ameaça
e nem há sevícia
que as traga de novo
ao centro da praça.
Insisto, solerte.
Busco persuadi-las.
Ser-lhes-ei escravo
de rara humildade.
Guardarei sigilo
de nosso comércio.
Na voz, nenhum travo
de zanga ou desgosto.
Sem me ouvir deslizam,
perpassam levíssima
se viram-me o rosto.
Lutar com palavras
parece sem fruto.
Não têm carne e sangue…
Entretanto, luto.
Palavra, palavra
(digo exasperado),
se me desafias,
aceito o combate.
Quisera possuir-te
neste descampado,
sem roteiro de unha
ou marca de dente
nessa pele clara.
Preferes o amor
de uma posse impura
e que venha o gozo
da maior tortura.
Luto corpo a corpo,
luto todo o tempo,
sem maior proveito
que o da caça ao vento.
Não encontro vestes,
não seguro formas,
é fluido inimigo
que me dobra os músculo
se ri-se das normas
da boa peleja.
Iludo-me às vezes,
pressinto que a entrega
se consumará.
Já vejo palavras
em coro submisso,
esta me ofertando
seu velho calor,
aquela sua glória
feita de mistério,
outra seu desdém,
outra seu ciúme,
e um sapiente amor
me ensina a fruir
de cada palavra
a essência captada,
o sutil queixume.
Mas ai! é o instante
de entreabrir os olhos:
entre beijo e boca,
tudo se evapora.
O ciclo do dia
ora se consuma
e o inútil duelo
jamais se resolve.
O teu rosto belo,
ó palavra,esplende
na curva da noite
que toda me envolve.
Tamanha paixão
e nenhum pecúlio.
Cerradas as portas,
a luta prossegue
nas ruas do sono.

Postado por Juliana.

quarta-feira, 16 de abril de 2008

‘Seja como você gostaria de aparecer para os outros’(Sócrates), ou seja, apareça para você mesmo como você gostaria de ser visto pelos outros. Desde que quando você está sozinho, você não está completamente sozinho, você mesmo pode e deve testemunhar sua própria realidade. A razão porque você não deveria matar, mesmo sob condições que ninguém veria você, é que você possivelmente não pode querer estar junto de um assassino. Cometendo um assassinato você se entregaria para a companhia de um assassino por toda sua vida. A noção de pluralidade está dentro dos próprios homens. Se a solidão for proibida, o homem não pode realizar o diálogo com ele mesmo, ou seja, é necessária a solidão para o exercício da forma de pensar.

Trecho da obra “The Promise of Politics”, Hannah Arendt


Postado por Patrícia

terça-feira, 15 de abril de 2008

Foto 3x4 milagrosa

Esses dias saí de casa com o propósito de tirar fotos 3x4, pois era necessário para requerer minha carteira de estudante. Dias anteriores, Juliana me disse que as fotos 3x4 ficam muito bonitas em um lugar perto da Praça da Liberdade. Segui o conselho de minha amiga e fui a esse lugar, mas confesso que não estava muito confiante de que as fotos ficariam boas. Afinal, foto 3x4 nunca fica boa. Cheguei ao local e fui atendida muito bem, o fotógrafo me emprestou uma blusa escura, fez umas brincadeiras, disse que podia me arrumar à vontade, e quando estivesse pronta era só chamá-lo. Depois de alguns retoques, chamei o executor das fotos, e em um minuto ele apertou o botão de sua máquina super potente. Ele disse para eu dar uma olhada, e se eu gostasse, ele já iria revelar. Olhei bem rapidamente, e disse que estava boa. Pensei comigo mesma: “Ë bobagem ficar pedindo para tirar várias fotos até ver qual é a melhor. A diferença de uma foto para outra não muda tanto, devemos ser realistas.” Entreguei-lhe o dinheiro e ele me deu as fotos. Olhei-as novamente e gostei bastante. Depois de alguns minutos, não conseguia conter minha curiosidade. Subi toda a rua João Pinheiro, olhando a foto 3x4. Estava enamorada de mim mesma. Mas, na verdade, o fotógrafo contribuiu para essa sensação que tive. Aquela máquina parece ocultar alguns traços de nossos rostos e ressaltar outros, dando uma harmonia em nossas faces. Enfim, é algo mágico. Saí de lá com a sensação de ter saído de uma clínica de estética e embelezamento. Apesar de saber que aquela máquina contribuiu para a fotografia, gostei muito do resultado. Foto 3x4, só lá...

Postado por Patrícia

sábado, 12 de abril de 2008

Roda Viva

Zuenir Ventura
Jornalista e escritor


1968, O Ano do Não


O mundo foi sacudido por manifestações estudantis, protestos, assassinatos e a Guerra do Vietnã, tudo isso se refletindo nas artes, nas atitudes e costumes, principalmente da juventude.

No subúrbio de Paris, na França, estudantes disseram não às proibições impostas pela rígida moral da universidade. As manifestações ganharam força e se estenderam para outras universidades e na ocupação de fábricas pelo movimento sindical. Na Primavera de Praga, tanques soviéticos invadiram a capital da Tchecoslováquia para impedir o chamado "Socialismo de Face Humana". O mundo assistia o fracasso dos EUA na Guerra do Vietnã e via também os assassinatos do ativista negro Martin Luther King Jr. e de Robert Kennedy, liberal branco que disputava a presidência.

No Brasil, em plena ditadura, as idéias libertárias provocaram protestos, manifestações e resposta das autoridades. Músicas e peças teatrais foram censuradas e o Congresso da Une, em Ibiúna, em São Paulo, foi dissolvido pela polícia. No final do ano, o AI-5 se encarregou do resto, ao proibir reuniões e manifestações políticas, fechar o Congresso Nacional e dar poderes absolutos ao Governo.

O jornalista e escritor Zuenir Ventura, autor do livro "1968: O ano que não terminou", volta agora com uma nova publicação: "1968: O que foi feito de nós", onde pergunta que balanço se pode fazer hoje de um ano tão carregado de ambições e sonhos e analisa o que restou dos ideais e o que foi feito daquela geração que pretendia mudar o mundo.

Participam como convidados entrevistadores:
Maria Isabel Mendes de Almeida, socióloga e professora da PUC/Rio e Universidade Cândido Mendes; Sidnei Basile, vice-presidente de relações institucionais do Grupo Abril; Augusto Nunes, diretor-executivo do jornal Gazeta Mercantil e do Jornal do Brasil; Marcos Augusto Gonçalves, editor do caderno Ilustrada do jornal Fol ha de S. Paulo; Regina Zappa, jornalista e escritora, co-autora do livro 1968, Eles Só Queriam Mudar o Mundo, junto com Ernesto Soto, que também está sendo lançado agora; Fred Melo Paiva, editor do caderno Aliás do jornal O Estado de S. Paulo.

Apresentação: Carlos Eduardo Lins da Silva


O Roda Viva é apresentado às segundas a partir das 22h40.
Você pode assistir on-line acessando o site no horário do programa.
http://www.tvcultura.com.br/rodaviva/

Postado por Juliana.

sexta-feira, 11 de abril de 2008

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Por uma mudança interna




Civilidade = conjunto de formalidades que os cidadãos observam entre si, quando bem educados;

delicadeza;

cortesia;

etiqueta;

urbanidade.

Fonte: Priberam

Postado por Juliana.

Ocupação UFMG



Hoje foram divulgados, no auditório da Reitoria, os informes relativos à reunião ocorrida ontem com o Conselho Universitário. Foram abertas, também, inscrições para dúvidas e comentários.

A reunião de ontem foi transmitida no telão do auditório. Alguns professores conselheiros se posicionaram muito bem sobre o absurdo acontecimento no IGC, manifestando repúdio à violência no Brasil em pleno século XXI e propondo responsabilização não apenas de um ou de outro, mas de toda a instituição. Assim, sairemos do estágio de investigação de um ou mais culpados para uma atitude coletiva de busca de soluções e prevenção de futuros erros.


Algumas demandas já foram atendidas pela reitoria, o que reforça a legitimidade adquirida pela ocupação.

Acompanhe o processo no blog da ocupação!

Postado por Juliana.
Foto: Foca Lisboa

terça-feira, 8 de abril de 2008

Ainda há pelo que lutar




Em tempos de democracia, a gente ouve muito dizer que o movimento estudantil - representado pela UNE, principalmente - está apagado ou que não possui tanta expressão como nos anos 60 e 70.
Eu já até havia formulado uma explicação para isso na minha cabeça: as gerações anteriores à minha conquistaram direitos e garantiram, por lei, reivindicações importantes para o estado em que se encontra a política hoje, no sentido de haver eleições diretas, universais, enfim. O poder é exercido pelo povo, direta ou indiretamente. A censura acabou e a anistia foi concedida.
Mas ainda há, sim, uma grande causa a ser defendida, a da continuidade de preservação do que nos foi deixado pelo movimento estudantil do período militar e da década de 70. É essencial que nós fiquemos alertas a todas as manifestações contrárias ao princípio do respeito à dignidade da pessoa humana. É importante que a comunidade estudantil não apenas se posicione, mas exija o cumprimento de seus anseios, mediante debates e reflexões.
Cada turma de faculdade vive seu próprio tempo. A luta atual não significa uma imitação nonsense do que ocorreu no tempo de Chico Buarque, Paulo Markun, Vladimir Herzog , Caetano Veloso, etc. Trata-se de experienciar uma realidade diversa e modificá-la, se necessário (como é, no momento presente), através de meios lúcidos e responsáveis.
Toda a comunidade acadêmica deve se envolver nas questões levantadas pelos estudantes porque a experiência docente só vem a ajudar e a vivência prática dos funcionários também contribui amplamente, por exemplo, para o entendimento da máquina burocrática.
Tenho muita satisfação em ver o pessoal envolvido em uma luta que é de toda a sociedade: melhorar a qualidade do relacionamento no interior da instituição, que doa seus resultados ao mundo, o que é muita responsabilidade. A preocupação das pessoas que estão ocupando a Reitoria mostra que ainda há quem não pense apenas em seu próprio umbigo, mas, sim, em âmbito global, geral, público. Ao contrário, pessoas permaneciam tranquilamente dentro de suas unidades, enquanto uma importante assembléia acontecia, com a presença do Reitor da universidade. Para quem ouve tudo por alto, o movimento não passava de uma união de maconheiros fazendo confusão.
Para mim, eram pessoas que ainda conservam sua integridade, que ainda acreditam, que não esperam, que criticam, ouvem, votam e possuem boas intenções. São pessoas que têm a inocência da juventude e a consciência de um adulto bem estruturado politicamente.


Postado por Juliana.
Foto: Foca Lisboa

Ocupação da Reitoria na UFMG



Aconteceu ontem, aqui no campus da Universidade Federal de Minas Gerais, uma manifestação pacífica dos estudantes, causada pelo episódio violento da quinta-feira, em que um grupo de alunos que assistia a um documentário sobre maconha, foi agredido, violentamente, por policiais militares. Os alunos presentes no momento da repressão* relatam que a sessão de vídeo transcorria normalmente, sem qualquer ato "perturbador da ordem" e a polícia já chegou batendo, arbitrariamente, sem oferecer oportunidade de diálogo.
Diante disso, uma audiência foi solicitada à Reitoria - maior instância responsável pela universidade - pelos estudantes. O pedido foi atendido no final da tarde de ontem, com a presença da vice-reitora, do reitor e da diretoria do IGC - Instituto de Geociências - local em que o filme foi exibido.
Após a audiência, uma assembléia estudantil foi realizada e deliberou-se a permanência dos estudantes no prédio da Reitoria. A decisão foi motivada pela incerteza com relação ao atendimento das questões levantadas pelos dicentes, pelo entendimento de que a resistência pacífica é um caminho, uma alternativa contra o abuso de autoridade e foi baseada, entre outros fatores, em experiências anteriores, em outras instituições brasileiras, como a UNB.
Hoje, ao meio-dia, em nova assembléia estudantil, foram definidos os pontos a serem incluídos na pauta da reunião com o Conselho Universitário, marcada para as 16 horas.


Gostaria de esclarecer que estive presente em todas as assembléias citadas. Peço a todos os estudantes que não podem estar presentes nas deliberações, que procurem informação diretamente na Reitoria, com a Comissão de Comunicação, formada, especialmente, para prestar informações seguras e claras.


*repressão s.f. 5 interrupção com utilização de violência 7 jur ato de reprimir, coibir, combater, ger. pelo uso da força
FONTE: HOUAISS, Antônio; SALLES, Mauro Villar de. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.

Postado por Juliana.
Foto: Foca Lisboa

sábado, 5 de abril de 2008

Análise do discurso

Quem passou pela vida em branca nuvem,
E em placido repouso adormeceu;
Quem não sentiu o frio da desgraça,
Quem passou pela vida e não sofreu,
Foi espectro de homem, não foi homem,
Só passou pela vida, não viveu.

FRANCISCO OCTAVIANO

Este poema foi citado pela Prof. Dra. Graça Paulino, no Simpósio Internacional de Análise do Discurso que se realizou na última semana em BH. O evento teve a presença de Dominique Maingueneau (Universidade de Paris XII), Patrick Charaudeau (Universidade de Paris XIII) e Claude Chabrol (Universidade de Paris III), entre vários outros pesquisadores importantes da área de AD.

Não me inscrevi, por causa da indisponibilidade de horários. Mas, na sexta-feira, trabalhei de manhã e me permiti deixar a tarde para "penetrar" em algum seminário ou comunicação. As opções eram muitas, mas, em tempos de concurso público, escolhi o tema Estudos sobre o ethos na persuasão política, com o pessoal da UFOP, UFMG e PUC-Minas.

Em um evento como esse, o interesse das pessoas se volta para os estudos em Análise do discurso e Literatura; Análise do discurso nas peças publicitárias, enfim. Dessa forma, o Prof. William Augusto Menezes (UFOP) iniciou as apresentações dizendo: Estamos aqui quase em um encontro clandestino e, em meio a risadas, o pós-doutorando Melliandro Mendes Galinari (UFMG) anunciou: Direto dos porões do Simpósio Internacional de Análise do discurso...
As pesquisas apresentadas foram muito interessantes, mostrando o ethos (máscara) construído pelos políticos e sua influência na imagem resultada pelo julgamento do ouvinte. No caso do ethos discursivo - ou presente - a imagem resulta da enunciação, da palavra. No ethos pré-discursivo - ou ethos prévio - resulta da reputação, do nome de família, etc. O cálculo de tais efeitos discursivos deve levar em conta saberes da doxa (senso comum).

Após a reunião underground, me dirigi ao auditório azul da Fafich para ouvir a Prof. Graça falar no trágico em Um nó na garganta, um silêncio na sala: “não falem de coisas tristes”, sobre a recusa de temas relacionados ao sofrimento na escola, instituição que já possui em si (especialmente a escola pública) aspectos tristes.


Postado por Juliana.

terça-feira, 1 de abril de 2008


A Ponte


Salto esculpido
sobre o vão
do espaço
em chão
de pedra e de aço
onde não permaneço


- passo.

Zila Mamede in: Navegos, 1978.

Zila Mamede (1828-1990), poeta, nasceu em Nova Palmeira-PB, mas seu berço literário foi Natal -RN.


Postado por Juliana.