quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Déjà vu

Chegada em minha cidade
Cenas já vividas
Momentos de felicidade
Vontade de congelá-los
Outros nem tão bons
Desejo de mudá-los

Olhar analítico sobre as pessoas ao redor
Queria tirar algumas névoas
Deixar só a alegria
E o reflexo da luz com seu calor

Um lar convidativo
Que exala harmonia
Cheio de luz e amor
Ele é real ou utopia?

Publicado por Patrícia

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Sobre o Cidade

A cidade é uma organização desorganizada, uma parada estranha, sinistra. Lá “tem de tudo”: engravatado, camelô, motociclista, catador. Há prédios de arquitetura moderna, construções antigas, bancas e barracas na calçada. Algumas autorizadas pela prefeitura, outras, clandestinas. Há gentileza, cidadania e há também má fé e imprudência.
Todos estão em movimento na cidade. Os prédios comerciais abrem suas portarias, enquanto o motorista de ônibus faz sua última viagem e o barman volta para casa.
Há quem diga que, ao acordar, a sensação é de ter acabado de deitar-se. O despertador toca e começa a vida de cada um na cidade. A gente lava o rosto, coloca o pé na via pública e vem aquela fumaça toda para cima! Os olhos se espremem contra a poeira do ar. E o passo continua, acelerado, cruzando a extensa faixa de linhas brancas paralelas. Os motores estão concentrados no instante da mudança de cor do sinal. Faz lembrar o verso “bando de gente a ir a algum lugar nenhum”, ou a música Braseiro, de Pedro Luís, “o ano inteiro eu corro atrás não sei de quê exatamente”.
Mas quando é feriado nacional ou jogo da seleção, a cidade fica estranha. Parada. Não se ouve barulho, ninguém transita, é até meio...sinistro!
Para onde vão os dejetos da vida urbana (sobra de alimento, jornal lido, pirataria, crack, vandalismo, copo plástico, guimba de cigarro, hipocrisia)? Para as ruas da cidade.
E na época das chuvas, tudo transborda. O pedestre salta esquinas alagadas, o pobre chora na tv, o rico fica sem luz para navegar. Mas depois, volta a cidade ao normal. Ao exagero que explode sem a gente notar.

Postado por Juliana.

Poesia Marginal - PARTE I



CIDADE
Chacal

cidade: parada estranha

aglomerações
linhas cruzadas
engarrafamentos

estranha cidade parada

cristalização de caos tédio estupor
escornada no espaço
veias abertas pedindo mais mais sempre mais

cidade: paradinha sinistra

babel bélica
bando de gente a ir a algum lugar nenhum
infinito véu de pulsações
gases desejos dejetos
palavras & balas
perdidas perdidas perdidas

cidade: sinistríssima parada

tudo é recriado e se esfumaça
seus citroens seu rock and roll
luzes da ribalta refletem na sarjeta
what's going on
as prensas não podem parar
notícia notícia notícia
revista já vista já velha
reprocessando matéria
clonando idéia
novelha novelha novelha

parada cidade estranha

choque elétrico todo dia
a dias meses anos
desintegrar - bang big -
numa implosão final
impotentes para formatar
bilhões de bytes
trilhões de raios catódicos
em expressão inteligível

cidade : parada estranha

excesso exagero coisa fumaça
corpo crivado de bits
corpo crivado de bits
corpo crivado de bits

Postado por Juliana. Foto: Estação da Luz, por Juliana.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Feliz Aniversário, São Paulo!



"(...) Quando eu te encarei
Frente a frente
Não vi o meu rosto
Chamei de mau gosto o que vi
De mau gosto, mau gosto
É que Narciso acha feio
O que não é espelho
E a mente apavora o que ainda
Não é mesmo velho
Nada do que não era antes
Quando não somos mutantes...

E foste um difícil começo
Afasto o que não conheço
E quem vende outro sonho
Feliz de cidade
Aprende depressa
A chamar-te de realidade
Porque és o avesso do avesso
Do avesso do avesso...

Do povo oprimido nas filas
Nas vilas, favelas
Da força da grana que ergue
E destrói coisas belas
Da feia fumaça que sobe
Apagando as estrelas
Eu vejo surgir teus poetas
De campos e espaços
Tuas oficinas de florestas
Teus deuses da chuva...
(...)"
Caetano Veloso

Postado por Juliana. Foto: Juliana, set. 2007.

terça-feira, 22 de janeiro de 2008


"Ser um ser permissível a si mesmo é a glória de existir."

Clarice Lispector (Tchetchelnik-1920-Rio de Janeiro-1977) atuou como jornalista no Brasil, se correspondeu com diversos amigos, que, como ela, eram escritores (entre eles, Drummond), viajou pelo mundo acompanhando o marido embaixador e contribuiu com a Literatura Brasileira, por meio de obras como A Hora da Estrela, A Paixão segundo G.H. e Laços de Família. Ao presidente Getúlio Vargas, redigiu um pedido de cidadania brasileira. O documento fazia parte da exposição no Museu da Língua Portuguesa, no ano passado.
Ler as palavras de Clarice Lispector é pensar. Refletir sobre a existência, sobre a convivência humana e também sobre os impulsos que a levaram a uma escrita tão particular.
Água Viva (1973) é uma obra bela. Talvez não exista adjetivo mais adequado para um livro tão bom, pois, em Literatura, o belo não é subjetivo. Os cânones foram assim classificados por sua constatada qualidade, temas atemporais abordados, entre outros aspectos, que os levam a serem indicados e procurados gerações adentro.

Postado por Juliana. Foto: Edição do Círculo do Livro, 1973. Ilustração de Massao Hotoschi.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

2008



O rei chegou e já mandou tocar os sinos
Na cidade inteira
É pra cantar os hinos
Hastear bandeiras e eu que sou menino muito obediente
Estava indiferente Logo me comovo
Pra ficar contente Porque é Ano Novo
Há muito tempo que essa minha gente vai vivendo a muque
É o mesmo batente, é o mesmo batuque Já ficou descrente
É sempre o mesmo truque E quem já viu de pé
O mesmo velho ovo Hoje fica contente porque é Ano Novo
A minha nega me pediu um vestido novo e colorido
Pra comemorar eu disse: Finja que não está descalça Dance alguma valsa
Quero ser seu par E ao meu amigo que não vê mais graça
Todo ano que passa Só lhe faz chorar
Eu disse: Homem, tenha seu orgulho Não faça barulho O rei não vai gostar
E quem for cego veja de repente Todo o azul da vida
Quem estiver doente Saia na corrida
Quem tiver presente Traga o mais vistoso
Quem tiver juízo Fique bem ditoso
Quem tiver sorriso Fique lá na frente
Pois vendo valente e tão leal seu povo O rei fica contente Porque é Ano Novo

Letra da música Ano Novo, Chico Buarque

Postado por Juliana. Foto: Salete Maso.