sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008


"A vida serve é para se morrer dela.”


Clarice Lispector


Postado por Juliana.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008



O pássaro é livre


na prisão do ar.


O espírito é livre


na prisão do corpo.


Mas livre, bem livre


é mesmo estar morto.


Carlos Drummond de Andrade

Aos meus queridos tios que já se foram e ao meu tio Edgar, que se foi hoje, no dia do seu aniversário.


Postado por Juliana. Foto: Flickr

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008







não morra, mas
se morrer
não se mova
na cova, mas

se mover
não se vire
de costas, mas

se viver

vire-se



Arnaldo Antunes


Postado por Juliana. Foto: Bi

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Grande noite



Ver o Arnaldo Antunes recitando seus poemas, cantando suas músicas e conversando sobre seu processo de criação, ao vivo, esta noite, foi um grande privilégio.
O artista cumprimentou o público presente no Ofício da palavra, no Museu de Artes e Ofícios, de forma muito receptiva, transmitindo conforto e certa informalidade. Ao falar seus textos, marcava o ritmo com a cabeça, um jeito particular, assim como sua voz, tão característica e inconfundível.
Ele fala de sua conexão com a escrita de uma forma prazerosa, como se esta relação fosse tranquila para ele, mais até do que a relação com a música, enquanto instrumentista. Ele contou que, por volta dos doze anos, escrevia e fazia aulas de violão e, hoje, em seus shows, prefere apenas cantar, pois o instrumento o deixa um pouco preso. Neste sentido, ele diz, seria mais um compositor do que um músico. Para que as palavras pudessem alcançar “algo mais”, ele julgou interessante que elas fossem entoadas e, muitas vezes, uma poesia lida não faz tanto sucesso quanto a musicada. Por outro lado, uma bela poesia pode não combinar com certa melodia e o processo de transformá-la em canção vem a falhar.
Arnaldo Antunes ressaltou a importância do trabalho formal, além da inspiração e emoção. “Através do trabalho é que se consegue emocionar”. Ele usou o termo “labuta” ao se referir ao que seria o “corpo a corpo com a linguagem”. Mencionou que é necessário tirar o que está sobrando, por meio de uma subtração. A escrita seria um processo de constante refazer, em busca de clareza e concisão.
Um dos poemas escolhidos por ele para ser falado foi postado aqui no blog em 18 de fevereiro. Outro, “virou” poema visual depois de ser música: O quê. Seguindo a trajetória de um círculo, em que está escrita toda a letra da música, é possível cantá-la, parando em qualquer ponto e retomando a leitura circular de conteúdo vazio e filosófico, segundo o autor, uma vez que não é o que não pode ser que não é(...) não diz nada e forma um círculo que questiona os limites da linguagem.
Sobre influências e preferências pessoais, citou Manuel Bandeira, Oswald, João Cabral e outros. A poesia concreta o marcou pelo fato da incorporação da imagem, o que também acontece agora, com a tecnologia, a qual possibilita que um único recurso gere imagem (foto), som, texto e vídeo (movimento): o computador. Se antes o livro era para ser lido, a música para ser ouvida e as artes plásticas para serem vistas, hoje há a interface entre as mídias.
Questionado sobre o conceito de língua, com base na possível proibição de palavras em inglês na língua portuguesa, proposta de um político brasileiro, responde que "a língua é uma matéria mutante". Cabe aos falantes permitir ou não a permanência das palavras.
Postado por Juliana. Foto: Juliana.

domingo, 24 de fevereiro de 2008

Contatos



Por trás dessa lente também bate um coração. Assim cantou Herbert Viana nos anos 80 (gostoso lembrar essas músicas). A questão era que ele ("eu-lírico" da música?) usava óculos. Hoje eu penso que, por trás dessa tela tem um cara legal, por trás dessa tela também bate um coração.
Todos os sites e recursos de relacionamento podem ter sua parcela boa, mas o contato não é substituível. Tomar "aquele" susto quando vi uma amigona grávida na feira hippie chamando meu nome é muito mais emocionante, acredito, do que encontrá-la virtualmente e saber da novidade assim, sem olhar para ela, sem sorrirmos uma para a outra.
Falar pelo Skype com uma pessoa amada que está longe, em outro país, é uma evolução positivíssima e a webcam, então, melhora ainda mais este contato. Mas, certamente, as pessoas das duas extremidades não vêem a hora de se olharem novamente, frente a frente, e se abraçarem.
Outro dia entrei no Flickr, como de costume, e havia fotos lindas feitas por um jovem. Algumas pessoas comentaram, elogiando. Outras, "detonaram" a técnica do garoto e disseram: "a outra foto estava melhor, mas esta também está legalzinha." Fiquei pensando em como deveria ser a Crítica, em geral. Ela deveria expor questões teóricas, análises que auxiliassem o leitor a compreender a Arte, a partir de uma obra ou de um assunto que esta desfia. Como disse Murilo Salles, se bem me recordo, a crítica poderia agir de forma a mostrar novas possibilidades.
Hoje, talvez as pessoas tirem certo proveito do fato de terem a possibilidade de não ser reconhecidas, de poderem não ter identidade e, então, enviam palavras não tão corteses, se declaram, etc.
O anonimato do internauta é bom, mas um pouco de tèt a tèt não faz mal a ninguém!
Postado por Juliana.


sábado, 23 de fevereiro de 2008




Não é todo rio

que tem um mar

pra se
encontrar

dá pra evaporar
e
Encontrá-lo
através do


Ar

Sem-título, autor desconhecido. Encontrado no varal de poesias no corredor da faculdade de Letras da UFES em... 2004?


Postado por Juliana. Foto: Juliana. Parque Estadual Paulo Cesar Vinha-Espírito Santo.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Arnaldo Antunes

COISA EM SI
NÃO EXISTE
TUDO TENDE
PENDE
DEPENDE
O MAR QUE MOLHA
A ILHA MOLHA
O CONTINENTE
O AR QUE SE
RESPIRA TRAZ
O QUE RECENDE

COISA EM SI
NÃO EXISTE
TUDO É RENTE
TANGENTE
INERENTE
PEDRA
ASSEMELHA
SEMENTE

SOL NASCENTE:
SOL POENTE

COISA EM SI
NÃO EXISTE

MESMO QUE APARENTE
COISA EM SI
COISA SÓ

PARIDA DO SEU
PRÓPRIO PÓ
SEM SOMBRA
SOBRE
A PAREDE

SEM MAR
GEM
OU AFLUENTE
NÃO EXISTE
COISA ASSIM
ISENTA
SEM AMBIENTE
NÃO HÁ CORAÇÃO SEM MENTE
PARAÍSO
SEM SERPENTE

COISA EM SI
INEXISTE
SÓ EXISTE
O QUE SE
SENTE

Arnaldo Antunes

E ele estará em BH. Dia 26 de fevereiro, no meu querido Museu de Artes e Ofícios.
Postado por Juliana.

sábado, 16 de fevereiro de 2008

A companhia de um livro

"Eu me ressinto muito de não ter mais tempo para ler. Gostaria de ter muito mais do que tenho. Às vezes, tenho que puxar o freio, diminuir a velocidade desta vida atribulada e falar: "Não". Gosto de tirar férias. O que mais gosto nas férias é de ter mais tempo para ler. Uma coisa que no meu dia-a-dia é escassa. Pois não há o que substitua a importância da leitura na formação das pessoas. Há quem diga que a gente pensa e pronto. Mas a gente pensa com palavras. Então quanto maior for o seu repertório, a sua experiência como leitor, melhor você vai pensar. Você vai ter mais instrumentos para refletir sobre qualquer outra coisa, seja qual for a sua área de atividade. Não são só os escritores que precisam ler. Qualquer pessoa pode se sair melhor na vida, no mundo, nas relações afetivas, no trabalho, se tiver essa experiência de alguma forma."
Arnaldo Antunes

Postado por Juliana. Fonte: Digestivo Cultural

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

A cor dos pensamentos

Fazia sete anos que não via a cor dos pensamentos mundanos. As noites passava a dormir o descanso biologicamente solicitado; as tardes, a barbear mendigos, conversar com pedintes, alimentar mães, pais, filhos moradores das calçadas sob marquises. As manhãs, gastava-as em orações, em leituras, em pensamentos de cores iguais.
Irmã Hortência também sorria, durante o dia todo, ao ver nos pobres Aquele que a convidara a voltar-se para seu interior, conhecer-se, descobrir a escolha, entre tantas, de um caminho tortuoso delas, existente em cada cabeça humana.
As pessoas olhavam seus cabelos curtos, sua veste comprida, marrom e continuavam a andar. Irmã Hortência também olhava para elas. Será que via Jesus?
Certa manhã de chuva forte saía ao centro da capital, onde certamente numerosos excluídos estariam sentindo frio, solidão e talvez sede e fome. Ela aproximou-se de duas figuras sentadas ao portão da área externa de uma igreja. Um, muito embreagado, o outro, não. Seus cabelos embaraçados, suas unhas pretas, as feridas recentes pelo corpo, pés doentes, bigodes já sem a noção de que parte cobrir ou proteger, tudo era o próprio Senhor. Irmã Dália não conseguiu vê-Lo. O fedor dos dois homens a enojava, suas escleras em brasa a assustavam, toda a sujeira, doença e perdição a repugnavam. Correu apavorada para dentro da igreja, bebeu água e fé. Procurou se juntar aos demais religiosos que cozinhavam sopa em uma enorme panela de ferro. A visão do caldo de cascas de legumes borbulhando e entornando pelas paredes externas do recipiente a fez voltar ao banco em que se ajoelhara antes.
Foi ali que apertou os olhos, as mãos entrelaçadas, os dedos dos pés e os músculos da coxa, pedindo forças e perdão para que pudesse começar mais um dia como São Francisco de Assis.
Saiu por uma das portas laterais com um pensamento e um guarda-chuva abertos.


Postado por Juliana. Foto: Thiago Kunz.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008


Destroços

Existem emoções que surgem com tanta intensidade
Nem chegam a ser racionalizadas
De repente, elas se revelam, causando estranhamento até mesmo na pessoa que sente.
Parece que nesse momento a emoção vence a pessoa.
O sentimento ocupa a posição de destaque. A pessoa é um detalhe.
Num instante, as lágrimas caem de forma desenfreada.
Perdemos o fôlego. Respiramos fundo, o eu acaba aparecendo devagarinho, a respiração normaliza.
Uma luz vai surgindo e soluções são cogitadas.
O choro é um meio que nos alivia a dor.
Criação divina e suscetível a todos os indivíduos.
Apesar de associado com a tristeza, é mais uma forma desesperada de encontrar a paz.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Língua mãe

A língua portuguesa aportou por aqui em 1500. Desde então, nunca mais foi a mesma, cada vez mais brasileira. Já havia, em nossas terras, diversas línguas indígenas, cujas palavras permaneceram no nosso português do Brasil. Ipatinga, tapioca e peteca são palavras indígenas.
No século XVI, os colonizadores trouxeram negros da África para trabalhar na exploração da colônia. A maioria dos que chegaram falava línguas bantas, principalmente o quicongo, o quimbundo e o umbundo. As palavras bagunça, angu e forró têm origem africana.
O fim da escravidão e a chegada de imigrantes marcaram a segunda metade do século XIX. Entre os intelectuais, era forte a influência exercida pela cultura da França. Muitas palavras francesas foram incorporadas ao nosso vocabulário, como matinê, abajur e sutiã. Italianos, alemães, espanhóis, japoneses, árabes e muitos outros se estabeleceram no país, temperando nosso caldeirão com lasanha, castanhola, pizza, camicase, cacife...
Durante a Segunda Guerra Mundial, o Brasil de Getúlio Vargas alinhou-se aos Estados Unidos. Propagandeando o estilo de vida norte-americano, palavras inglesas bombardearam o país, como ocorre até hoje, principalmente com a utilização da informática e internet (e-mail, drive, banner, download, shopping, self-service, hamburguer). Foi incorporada também uma nova linguagem escrita, o internetês. Não raro visto com maus olhos, caracteriza-se por abreviações e grafia segundo a fonética (kdê, aki, axo).
Mudança não é corrupção. A língua é um sistema com capacidade de remodelação e as mudanças se devem a fatores relacionados à Antropologia, Biologia, Sociologia e só se fixam mediante autorização da comunidade falante.

Fonte: Almanaque de Cultura Popular Brasil, ANO 9, NO 106, Fevereiro, 2008. Texto: Rafael Capanema (adaptado por Juliana).

domingo, 10 de fevereiro de 2008

Arte Contemporânea

Entre 2002 e 2004, frequentei o sarau O quinze em Vitória. Eram encontros super gostosos abertos a qualquer pessoa. A elas era dada a liberdade de falar seus próprios textos ou de outros autores. Cada um que participava, inevitavelmente chegava acompanhado de um convidado na reunião seguinte. O sarau teve seu primeiro espaço na Gaiola das Flores. Lá, a gente encontrava livros, flores, café, amizade e poesia.
Nessa época, então, conheci muita gente interessante, entre elas, o Miro. Seus poemas eram cheios de verbos e pausas. Sujeito e predicado, sem adjetivos. Ele ia lá para a frente, muito alto e magro, vestido com roupas "sociais" e então nos oferecia versos curtos, cheios de psicodelia e introspecção. Quando ele falava, eu imaginava a noite, sombras, postes de fraca luz e estrelas.
Ele agora fará um trabalho em artes plásticas juntando pedras enviadas de toda parte do mundo. Para colaborar, coloque a pedra no envelope e mande para:
Pangaea Fundament Foundation Air
PO BOX 363, 5000, AJ Tilburg - Netherlands
Escreva um e-mail com: nome, cidade e como ficou sabendo do projeto.

miro@mirosoares.com

http://www.mirosoares.com


Postado por Juliana.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Bacante



Pavios de vela a incendiar
Bebida de Baco
Luar

Suba na minha sacada
Armadilha pronta
para depois da noite
te libertar


Postado por Juliana. Foto: Flickr

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Poesia Marginal - PARTE II

SPIK (sic) TUPINIK [1977]

(para Paulo Veríssimo)

Rebel without a cause, vômito do mito
da nova nova nova nova geração,
cuspo no prato e janto junto com palmito
o baioque (o forrock, o rockixe), o rockão.
Receito a seita de quem samba e roquenrola:
Babo, Bob, pop, pipoca, cornflake;
take a cocktail de coco com cocacola,
de whisky e estricnina make a milkshake.
Tem híbridos morfemas a língua que falo,
meio nega-bacana, chiquita-maluca;
no rolo embananado me embolo,
me embalo,
soluço - hic - e desligo - clic - a cuca.

Sou luxo, chulo e chic, caçula e cacique.
I am a tupinik, eu falo em tupinik.

Glauco Mattoso

Postado por Juliana.

sábado, 2 de fevereiro de 2008

Vou beijar-te agora, não me leve a mal, hoje é carnaval!


Chegou fevereiro. O sol está brilhando e a animação toma conta de quem gosta dessa antiga festa colorida que é o carnaval. Todos querem brincar, cada um à sua maneira, dentro do salão, atrás do trio elétrico, nas ruas da cidade, na apoteose, e até dentro do mar, como em Manguinhos, no Espírito Santo.
O lugar é uma vila de pescadores onde acontece, tradicionalmente, há 50 anos, o banho de mar à fantasia. Antes que chegue o sábado de carnaval, todos botam a imaginação para funcionar e chegam a uma idéia original que será tema de sua fantasia. Os divertidos blocos saem ao som de uma bateria de abalar as estruturas do esqueleto e aí, a alegria dá um baile na tristeza!
É muito gostoso perceber as pessoas entrando no clima de brincadeira do carnaval. Os sorrisos saem facilmente, a alma se abre para aproveitar o momento da folia. É permitido pular junto a desconhecidos, enchê-los de confete, ser preso por serpentinas e também trocar olhares no meio da multidão.
Desde a época de bailes de mascarados, o carnaval tem seu charme e pode ser muito saudável e deixar ótimas recordações, se nós soubermos curtir, numa boa.

reza quem é de rezar, brinca aquele que é de brincadeira, quem é de paz pode se aproximar, hoje é festa pr´uma noite inteira!
  • Hoje é sábado de carnaval, dia de Iemanjá e aniversário da minha mãe!

Postado por Juliana. Foto: Juliana.