terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Grande noite



Ver o Arnaldo Antunes recitando seus poemas, cantando suas músicas e conversando sobre seu processo de criação, ao vivo, esta noite, foi um grande privilégio.
O artista cumprimentou o público presente no Ofício da palavra, no Museu de Artes e Ofícios, de forma muito receptiva, transmitindo conforto e certa informalidade. Ao falar seus textos, marcava o ritmo com a cabeça, um jeito particular, assim como sua voz, tão característica e inconfundível.
Ele fala de sua conexão com a escrita de uma forma prazerosa, como se esta relação fosse tranquila para ele, mais até do que a relação com a música, enquanto instrumentista. Ele contou que, por volta dos doze anos, escrevia e fazia aulas de violão e, hoje, em seus shows, prefere apenas cantar, pois o instrumento o deixa um pouco preso. Neste sentido, ele diz, seria mais um compositor do que um músico. Para que as palavras pudessem alcançar “algo mais”, ele julgou interessante que elas fossem entoadas e, muitas vezes, uma poesia lida não faz tanto sucesso quanto a musicada. Por outro lado, uma bela poesia pode não combinar com certa melodia e o processo de transformá-la em canção vem a falhar.
Arnaldo Antunes ressaltou a importância do trabalho formal, além da inspiração e emoção. “Através do trabalho é que se consegue emocionar”. Ele usou o termo “labuta” ao se referir ao que seria o “corpo a corpo com a linguagem”. Mencionou que é necessário tirar o que está sobrando, por meio de uma subtração. A escrita seria um processo de constante refazer, em busca de clareza e concisão.
Um dos poemas escolhidos por ele para ser falado foi postado aqui no blog em 18 de fevereiro. Outro, “virou” poema visual depois de ser música: O quê. Seguindo a trajetória de um círculo, em que está escrita toda a letra da música, é possível cantá-la, parando em qualquer ponto e retomando a leitura circular de conteúdo vazio e filosófico, segundo o autor, uma vez que não é o que não pode ser que não é(...) não diz nada e forma um círculo que questiona os limites da linguagem.
Sobre influências e preferências pessoais, citou Manuel Bandeira, Oswald, João Cabral e outros. A poesia concreta o marcou pelo fato da incorporação da imagem, o que também acontece agora, com a tecnologia, a qual possibilita que um único recurso gere imagem (foto), som, texto e vídeo (movimento): o computador. Se antes o livro era para ser lido, a música para ser ouvida e as artes plásticas para serem vistas, hoje há a interface entre as mídias.
Questionado sobre o conceito de língua, com base na possível proibição de palavras em inglês na língua portuguesa, proposta de um político brasileiro, responde que "a língua é uma matéria mutante". Cabe aos falantes permitir ou não a permanência das palavras.
Postado por Juliana. Foto: Juliana.

2 comentários:

Gabriela Galvão disse...

Então, cabe aos falantes permitir ou ñ a permanência das palavras, ok. E das formas d falar? Pq aih os meus cabelos arrrrrepiaaammm... O gerundismo vai ficar????!!!!!


"Meu Pai!"



; )

Anônimo disse...

É, Bi, já ficou! Mas acho que, na linguagem falada, não há como dizer que está errado. Soa mal, dificulta o que poderia ser simplificado. Mas as pessoas que utilizam o gerundismo não conseguem entender isso e, às vezes, não têm a percepção de que falam assim e nem a dimensão de seu ato. Uma pessoa com quem trabalhei, que falava assim, me perguntou uma vez, ao receber um daqueles e-mails irônicos sobre o assunto: "Eu falo assim?"