quarta-feira, 30 de julho de 2008

Letramento

Tive a honra de entrevistar a Professora Maria Zélia Versiani Machado, Doutora em Educação e professora da UFMG. Ela nos deu o prazer de ter em nosso blog respostas dela a três questões básicas sobre o assunto "Letramento Literário".
Leia a seguir e saiba um pouco mais a respeito.

A Professora Zélia, como é mais conhecida na Universidade, coordena o Grupo de Pesquisas do Letramento Literário (GPELL), do Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita (CEALE), da FaE/UFMG.


Juliana- Qual a diferença entre Alfabetização e Letramento?

Prof. Zélia- A diferença entre alfabetização e letramento tem sido discutida no Brasil a partir do trabalho de Magda Soares, que sistematizou essa discussão no livro Letramento: um tema em três gêneros. Mas temos também valiosas contribuições de outros pesquisadores como Luiz Antônio Marcuschi, que, nesse contexto, tem focalizado sobretudo a oralidade e os gêneros textuais; Ângela Kleiman, que foi quem inaugurou aqui a discussão sobre a pesquisa em letramentos, entre outros autores. Em linhas gerais, podemos resumir essa diferença como uma necessidade. Distinguir alfabetização e letramento é necessário para que, por um lado, não se percam especificidades ligadas à apropriação da tecnologia da escrita – entendida como alfabetização –, e, por outro, a continuidade e manutenção de usos sociais da escrita e da leitura – o letramento. Segundo Magda Soares, processo iniciado antes mesmo do processo escolar de alfabetização, nas culturas letradas. É bom ressalvar que “cultura letrada” tem um sentido amplo que vai muito além da cultura que está nos livros. Ela quer dizer, de modo mais abrangente, “cultura da escrita”, que engloba todos os modos de interagir em sociedade por meio de textos escritos. Na nossa sociedade, o nascimento de um indivíduo deve ser comprovado por um registro escrito. Esse pequeno exemplo já é significativo do que estamos compreendendo como cultura escrita. Outro aspecto que não se deve perder de vista é que oralidade e escrita mantêm-se num contínuo e não separadas. Os gêneros orais e escritos que usamos integram-se numa rede de correspondências e trocas de acordo com as situações em que usamos a linguagem.

Juliana- O que é Letramento Literário? Qual a importância da existência de um grupo de pesquisa, dentro da academia, sobre o Letramento Literário?

Prof. Zélia- O letramento literário – estado ou condição de quem faz usos da literatura – supõe um processo que pode se iniciar antes de se saber ler e escrever. Nas histórias, nos provérbios, nos ditos populares, nas adivinhas, nas parlendas, entre outros textos ficcionais e poéticos da oralidade, por meio de muitas vozes que não se restringem àquelas do universo familiar mais próximo. Na escola, com o aprendizado da leitura e da escrita, os impressos – livros, jornais, revistas e as telas como portadores de textos literários passam a fazer parte desse processo de letramento, dando mais autonomia ao leitor. A partir da alfabetização ele poderá interagir mais com a cultura escrita literária que o envolve. Ele passa a escolher o que quer ler, a indicar livros de que gostou. O trabalho dos professores, depois disso, continua a ser imprescindível no sentido de ampliar, a cada etapa da escolaridade, as experiências literárias de seus alunos.

O termo ‘letramento literário’ foi usado pela primeira vez no Brasil por Graça Paulino, num trabalho encomendado para a ANPEd, na seqüência do trabalho de Magda Soares. Na época, o nosso grupo de pesquisa tinha o nome Grupo de Pesquisas de Literatura Infantil e Juvenil. Em seguida passamos a adotar o nome Grupo de Pesquisas do Letramento Literário – GPELL – pelo fato de, assim, integrarmos mais a literatura no contexto da cultura escrita às nossas discussões. Desta forma, a mudança de nome buscou destacar a importância da leitura literária, do leitor, da formação de leitores – professores e alunos –, da leitura literária na escola e em bibliotecas, etc. Como grupo de pesquisa do Ceale – Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita, da Faculdade de Educação (UFMG) – a opção pelo letramento literário afinava-se às ações do Centro, entre as quais aquela voltada para a formação de professores. A oportunidade de diálogo com professores da educação básica tem nos mostrado caminhos para levar a literatura para dentro da sala de aula. Sem esse contraponto, esse diálogo com o leitor-professor ou aluno, não estaríamos fazendo jus à designação letramento literário. A outra ponta – para quem e para onde vão os livros – nos interessa tanto quanto os “bons” livros da literatura. E sabemos que uma exigência para que ele chegue ao leitor é a de cumplicidade, uma cumplicidade que se alcança quando o professor é autor e ator do processo, quando partilha as suas leituras com seus alunos, com outros professores, com pesquisadores. Acreditamos que essa condição de autoria e de ser ator de suas ações mediadoras na sala de aula pode ser conquistada pelos professores em cursos de formação. Outra ênfase do Grupo, a da pesquisa, não tem perdido de vista essa perspectiva da formação de leitores. Acabei indo além do conceito. Inevitavelmente.


Postado por Juliana.

Um comentário:

Gabriela Galvão disse...

Parabéns pela iniciativa! O blog estah cada vz mais profissa e caprichado!

Nem sabia bem do conceito "letramento"... P mim era apenas um sinônimo d alfabetização.

Bj!