Numa daquelas casas ali morava Analu. Menina de família bem de vida, menina educada, pura ingenuidade, mas tão indefesa, tão indefesa... tal qual o coleirinho criado cativo. Analu não tinha o que pudesse desencadear em seu organismo o estímulo para o envio de uma mensagem ao cérebro, que fizesse com que uma frase de reação fosse formulada e as palavras desta frase se tornassem som, produzido pela vibração de suas cordas vocais, junto ao movimento de língua, lábios e dentes. Ela não se defendia. Não se revoltava, não se abalava diante das chacotas que lhe eram oferecidas gratuitamente todas as vezes em que contava seus casos. Muitas vezes as gozações eram feitas às suas costas- dentro das casas ou nas rodas de estudo, quando de uma dispersão dos estudantes -é verdade. De qualquer forma, Analu era alheia e não se importava que acreditassem ou desacreditassem em seus casos. Não houve vez em que demonstrasse desejo de provar que o que estava contando era verídico. Até que um dia, o... bem, primeiro vou contar umas duas estórias dessa menina que você vai achar até que ela devia estar no hospício.
Disse ela que uns turistas de uma praia muito exótica no oceano Pacífico estavam bem contentes e folgados em suas luas-de-mel, férias e recessos, quando uma onda gigante de cinco metros subiu da arrebentação. As águas levaram pessoas, carros, casas, vacas, pianos, tudo o que estava no caminho entre o esticar da onda e o seu recolher. Não é demais? Cinco metros? Então. Pois contou, também, Analu, que uma criatura com uma cabeça, seis braços com trinta dedos e quatro olhos tocou a zabumba, o triângulo e a sanfona aos pés de sua janela e da catuabeira. Mais tarde, a criatura pegou ainda a rabeca e desandou a xaxar.
Pois um dia, foi aí, foi nesse dia que a Analu teve um estalo. As implicâncias entraram em seu ouvido externo, viajaram lá para dentro da caixola, um pouquinho delas foi para o fígado, outro pro coração, um tiquinho saiu pelo outro ouvido, danaram a fazer volta dentro da caixola, estimularam o cérebro, o qual ordenou que uma mensagem fosse dita pela voz de Analu aos descrentes.
― E-e-e-e-ita! Rapaz, e qual foi a mensagem?
A menina olhou sem expressão para quem lhe chacoteava pedindo provas do que ela dizia e afirmou:
Eu vi.
Conto dedicado ao Grupo pernambucano Comadre Fulozinha.
Postado por Juliana. Foto: Flickr
2 comentários:
Pô, q delícia d conto!!! Mt fofo!!! Falou p/ o grupo q ele teve essa honra??!
Adorei msm.
Bj!!!!!
Falei, não!
Beijo.
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